Num artigo publicado na revista científica “Science Signaling”, uma equipa de investigadores do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, liderada por João Bettencourt Relvas, demonstrou que o consumo de álcool repetido em quantidades excessivas atua diretamente na microglia (células imunes do sistema nervoso central) e faz com que esta elimine parte da comunicação entre neurónios (sinapses) em áreas específicas do cérebro, levando ao aumento dos níveis de ansiedade. Os investigadores descobriram também os mecanismos responsáveis por esse processo e como prevenir esse efeito.
O consumo de álcool tem um impacto negativo na vida de milhões de pessoas em todo o mundo e está normalmente associado a défices na transmissão sináptica e na função da microglia nos seus consumidores, assim como em modelos animais de intoxicação alcoólica, explica João Bettencourt Relvas, líder do grupo de investigação «Glial Cell Biology» e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).
O Sistema Nacional de Saúde (SNS), através das suas Unidades de Alcoologia, recomenda que não se ultrapassem as duas bebidas por dia, ou as 10 bebidas por semana, correspondendo uma bebida a 20 cl de cerveja, ou 10 cl de vinho com 12°, ou 3 cl de uma bebida destilada, por exemplo. O consumo de álcool é considerado excessivo sempre que ultrapassa quatro bebidas por dia nas mulheres, e cinco bebidas por dia nos homens.
Consumo de álcool: períodos curtos mas repetidos também com consequências
Neste trabalho utilizaram-se doses equivalentes a cinco bebidas por dia no homem, durante um período de 10 dias. O que a equipa mostra neste trabalho é que «o álcool afeta a microglia e que esta afeta diretamente os neurónios, uma vez que é a microglia que neste contexto elimina elementos estruturais da comunicação entre os neurónios, as chamadas sinapses», conclui.

Renato Socodato e Camila Cabral Portugal, primeiros autores do artigo que mereceu honras de primeira página da Science Signaling, explicam que «existe a ideia pré-concebida de que o álcool só atua diretamente nos neurónios; no nosso trabalho provamos que o álcool também atua na microglia, induzindo-a a «comer» sinapses e que isso contribui para o aumento de ansiedade observado».
Para além disso, continuam os investigadores, «estudámos também as vias de sinalização que causam a eliminação dessas sinapses específicas e conseguimos, com a recurso a fármacos já utilizados na clínica, prevenir o aumento de ansiedade induzido pelo consumo repetido de álcool». Para isso, adianta Camila Cabral Portugal, «recorremos a fármacos que são normalmente utilizados contra o cancro (anti-neoplásicos). Drogas que já estão no mercado e que podem ser usadas neste contexto para prevenir perdas sinápticas induzidas pelo álcool que levam ao aumento de ansiedade».
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Teresa Summavielle, líder do grupo de investigação do i3S «Addiction Biology», e que também coordenou este estudo, salienta ainda as conclusões deste trabalho em relação à demência associada ao consumo de álcool: «A comunidade científica é unânime ao afirmar que doses elevadas de álcool causam deficits cognitivos consideráveis e que isso contribui para o desenvolvimento de demência, mas este trabalho mostra que mesmo períodos relativamente curtos do consumo repetido de álcool em excesso são suficientes para que exista perda sináptica, o que pode por si ter consequências a médio/longo prazo».
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