“Informar, entreter e educar. Educar é uma das componentes fundamentais do serviço público”, quem o diz é Gonçalo Reis, Presidente Executivo da RTP, que afirma que a telescola veio para ficar. “Os méritos do estudo em casa são méritos permanentes, válidos daqui a seis meses, daqui a um ano. Este é um serviço que veio para ficar”. Declarações feitas durante o SMART PORTUGAL Webinar, que decorreu esta quarta feira, 29 de abril, tendo por tema “Ensino no pós-pandemia: desafios da inclusão territorial”, numa organização da NOVA Cidade – Urban Analytics Lab, o laboratório de inteligência urbana da NOVA Information Management School (NOVA IMS), contando com a revista Smart Cities como Media Partner.
O webinar contou, também, como convidados, com o Secretário de Estado Adjunto e da Educação, João Costa, com a Reitora da Universidade de Évora, Ana Costa Freitas, além dos participantes residentes António Almeida Henriques, Presidente da Câmara Municipal de Viseu e Vice-Presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses, onde coordena a Secção de Municípios “Cidades Inteligentes”, e Miguel de Castro Neto, Subdiretor da NOVA IMS e Coordenador da NOVA Cidade – Urban Analytics Lab, que moderou o painel.
A telescola foi uma das soluções encontradas pelo Governo, em parceria com o serviço público de televisão, para garantir o acesso a conteúdos educativos a todas as crianças do Ensino Básico e tem batido recordes de audiências nas manhãs televisivas. “Temos aulas com 500.000 pessoas”, contou Gonçalo Reis no SMART PORTUGAL Webinar. O serviço está disponível também na RTP Play, onde o número de visitantes semanais passou de um milhão para 1.8 milhões, e chega ainda a Angola e a Moçambique. “Temos relatos de avós que vêm a telescola para aprenderem e terem conversa com os netos, é um espaço de comunidade”, adianta o Presidente Executivo da RTP.
Um serviço que nasceu da necessidade de inclusão e coesão social e territorial do ensino, no atual contexto de pandemia.
SMART PORTUGAL Webinar abordou Plano para a Transição Digital na Educação
Com esta iniciativa, “constatou-se o que se sabia: que todos os alunos tinham acesso a TV, mas muitos não têm acesso a PC ou tablet. Mais grave, constata-se mais do que nunca, que a cobertura de fibra ótica não existe numa boa parte do país, o que coloca os cidadãos numa situação de grande desigualdade. Só no concelho de Viseu, cerca de um terço não está coberto para não falar da inexistência de cobertura GSM”, nota António Almeida Henriques. E deixa o repto ao Governo: “Que mobilize os operadores, participando de uma forma direta, para que a rede de fibra ótica chegue a todas as casas, não só pelas questões do ensino, mas também da economia, pela promoção da coesão territorial. No GSM o mesmo panorama, tantos anos depois existem autênticos buracos negros sem qualquer cobertura, e sem simetria na qualidade de acesso por parte dos operadores”.
O plano das infraestruturas, a nível de equipamentos, rede e conectividade, é precisamente o primeiro eixo do Plano para a Transição Digital na Educação, que está a ser ultimado pelo Governo, além da capacitação dos professores e da produção de conteúdos educativos adaptados a esta fase de transição.
João Costa, Secretário de Estado Adjunto e da Educação garantiu, durante o SMART PORTUGAL Webinar, que o Plano “está a ser produzido de forma muito acelerada nas suas diferentes vertentes”, estrutura financeira e estabelecimento de prioridades. “O atual momento deu-nos uma filigrana das necessidades de equipamentos e de rede por todos e país. O objetivo do Governo é darmos uma resposta muito melhor às escolas no próximo ano letivo, do que aquela que estamos a conseguir dar agora, até porque estamos a falar de operações financeiras de grande complexidade e também de um momento de rutura de stocks”, adianta o responsável.
“Há coisas que não voltarão atrás”…
Ana Costa Freitas, Reitora da Universidade de Évora, destaca alguns avanços permitidos pelo atual momento de restrições: “Há coisas que não voltarão atrás, há uma capacidade dos docentes tirarem dúvidas online, de fazermos reuniões por videoconferência, percebemos que não havia a necessidade de deslocações de professores para júris de provas académicas, os concursos para a carreira docente e não docente têm funcionado bem, tudo isto representa uma poupança enorme. As pessoas não se deslocam, não perdem o seu tempo, não usam o automóvel, não poluem o ar, são enormes vantagens”.
No entanto, reforça a necessidade de voltarmos a viver em sociedade, de alcançar um equilíbrio entre a vivência na academia e a modernização tecnológica, onde a Universidade de Évora tem vindo a procurar novas soluções para aplicar quer no próximo ano letivo quer nos sistemas de avaliação ainda este ano.
“A avaliação como acontecia, não vai acontecer mais. Terá de se fazer necessariamente de forma diferente”, notou no SMART PORTUGAL Webinar. E adiantou: “Precisávamos de ter uma FCT para a inovação pedagógica e termos financiamento para inovação pedagógica. Começámos a mudança e devíamos mantê-la, penso que este é o momento certo”.
Para o Secretário de Estado Adjunto e da Educação o atual contexto permite-nos mesmo “questionar se a forma como avaliávamos era interessante e justa. Este é um momento para pensarmos, todos, no que é avaliar no contexto educativo”.
É fundamental trabalhar a literacia mediática e científica
Mas não só. Afirma que algumas linhas orientadoras da educação, já identificadas como necessárias, tornam-se agora evidentes e urgentes. Desde logo, a necessidade de dominar metodologias múltiplas de ensino e de avaliação; a necessidade de desenvolvimento de competências múltiplas, como a autonomia, a responsabilidade, a resolução de problemas e as competências digitais. “É fundamental trabalhar a literacia mediática e a literacia científica, principalmente entre os jovens. As redes sociais estão a ser inundadas por informação sem qualquer credibilidade científica. É essencial trabalharmos dimensões como o pensamento critico”, explica; e a importância de diferenciar abordagens pedagógicas. “A necessidade de não termos uma aula igual para todos os alunos tornou-se completamente evidente. E é importante não perdermos isso no final deste período”.
No entanto, durante o SMART PORTUGAL Webinar, o responsável político considerou que a principal lição a retirar deste período é que nada substitui, no processo educativo, a relação presencial. “Certamente ficaremos com recursos, com outro know-how, mas o ato educativo é, sobretudo, uma relação que se estabelece presencialmente”. E deixa ainda o alerta: “O ensino básico e secundário é um sistema educativo mas é, também, um sistema de proteção social. Há crianças que só comem porque comem na escola, há crianças que são identificadas como crianças em risco de violência, de abusos, de negligência, de maus tratos porque a escola deteta estas marcas. Há comunidades e grupos que só estão na escola porque é obrigatório. Com o ensino à distância, essa função social da escola está seriamente comprometida”.
João Costa assegura que foram estabelecidas redes que garantem a prestação de refeições aos alunos carenciados, bem como a proximidade e a presencialidade num momento em que ela está impedida, inclusive redes de voluntários. “E tivemos uma cooperação muito grande da parte das autarquias, dos municípios, das juntas de freguesia, que têm sido em muitos contextos, em muitos territórios, quem garante este controlo do bem-estar de muitas crianças e jovens, e até de muitas famílias”.
Descentralização também foi assunto no SMART PORTUGAL Webinar
Sobre a necessidade de atuar ao nível local, em várias frentes, António Almeida Henriques afirma que: “Nunca como nesta fase, senti que faz sentido a descentralização, no contexto educativo, da saúde, da proteção civil, sempre em coordenação com o poder central”.
No âmbito deste processo de reabertura também no setor do ensino, Miguel de Castro Neto terminou sublinhando a importância do contacto entre professores e alunos. Todas estas novas plataformas têm desempenhado um papel essencial, mas ainda não garantem totalmente “aquela energia que só existe quando se está na sala com os alunos.”
Sobre os Smart Portugal Webinar:
Os Smart Portugal Webinars são promovidos pelo NOVA Cidade – Urban Analytics Lab, o laboratório de inteligência urbana da NOVA Information Management School (NOVA IMS). Têm periodicidade semanal e um tema previamente definido.
A atividade do NOVA Cidade pode ser acompanhada na página de Facebook do Urban Analytics Lab.
Para mais informações:
Marta Marques Silva | ma*********@f5*.pt | 932 956 538