Um grupo de investigadores do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde descobriu que a presença de variantes em sequências de DNA não codificante pode resultar em alterações em toda a maquinaria genética e causar danos no funcionamento do pâncreas, contribuindo assim para o desenvolvimento da diabetes tipo 2.
Com este estudo, recentemente publicado na prestigiada revista Diabetes, e que faz capa da edição de dezembro, a equipa de trabalho ajuda a desvendar um dos maiores mistérios da genética, o verdadeiro papel do DNA não codificante.
A diabetes tipo 2, aquela que se desenvolve já em adulto, constitui uma das doenças mais comuns da atualidade, afetando mais de 400 milhões de pessoas em todo o mundo. Estima-se, aliás, que este número triplicará até 2035. Esta patologia é parcialmente caracterizada pela disfunção de uma das duas componentes do pâncreas humano, a endócrina, que não produz insulina suficiente, e pode resultar em diversas complicações severas e, consequentemente, em morte prematura.
Toda a nossa informação hereditária está incluída no nosso DNA sob a forma de uma sequência de blocos diferentes e sabe-se que algumas variações na sequência de DNA estão associadas a um aumento do risco de se desenvolver algumas doenças ao longo da vida, como a diabetes tipo 2. Os genes representam apenas 2% de toda a informação contida na sequência do nosso DNA e há uma parte dos restantes 98%, designados por DNA não codificante, que regula a atividade dos nossos genes e consequentemente, o bom funcionamento do nosso organismo. Aliás, a maioria das variantes no código do DNA associadas à diabetes tipo 2 encontram-se no DNA não codificante.
Estudo sobre diabetes tipo 2 utilizou peixe-zebra como modelo
Utilizando o peixe-zebra como modelo animal, a equipa do i3S, liderada pelo investigador José Bessa, líder do grupo «Vertebrate Development and Regeneration», identificou várias sequências humanas não codificantes capazes de controlar a atividade de genes pancreáticos. Descobriu inclusivamente uma sequência capaz de funcionar como DNA codificante e simultaneamente como controlador da atividade de genes localizados no DNA não codificante.
Estudos prévios sugeriam que a variante associada à diabetes tipo 2 afetaria a forma de leitura do gene onde esta se encontra localizada, levando à perda de função deste gene. «O que conseguimos provar com esta investigação é que o aumento do risco de desenvolver diabetes pode estar relacionado, não com a perda de função deste gene, mas sim com o aumento da atividade da sequência que regula a atividade deste mesmo gene», explica Ana Eufrasio, primeira autora do estudo.
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«Nós mostramos que variantes no DNA não codificante têm um impacto importante na sua função reguladora da atividade de genes e que, em alguns casos, não existe uma fronteira clara entre estas funções e as do DNA codificante, desvendando um pouco mais a genética da diabetes tipo 2», conclui José Bessa.
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Luísa Melo
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